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OBJETOS QUE NOS HABITAM

Ao mesmo tempo em que habitamos um lugar, ocupamos um espaço que  também nos habita, com seus objetos e memória. Cada objeto de nossas casas possui lembranças, identidades e referências que determinam nossas preferências e estimas, demarcando memórias, um lugar que construímos dentro de cada um de nós. Estas memórias se manifestam por meio dos OBJETOS QUE NOS HABITAM.

 

Quando eu era pequena, meus avós paternos moravam numa casa no campo; onde eu passava um mês de férias, antes de irmos para a praia. A casa fica no alto de uma coxilha, o que faz parecer que estamos mais perto do céu. De dia costumava observar os desenhos das nuvens e a noite as estrelas: sentada em uma cadeirinha de madeira em frente da casa; ou caminhando até a porteira (com uma parada obrigatória em uma grande figueira no meio do caminho). A noite ao dormir o meu céu era as paredes do quarto iluminado pela vela, onde eu ficava observando os desenhos das manchas nas paredes rosadas, na pintura a cal desbotada. O meu céu e horizonte, continuou na minha produção poética em diferentes séries e reaparece nesta, presente nas paisagens, janelas e objetos que lembram meus antepassados.

Essas obras foram iniciadas em janeiro de 2023, como um desdobramento da série “dicotomia” com as mesmas questões reflexivas, porém o luxo eram os tecidos e o lixo as telas feitas com retalhos descartados de confecções. Estas obras foram iniciadas em janeiro de 2023, como um desdobramento da série “dicotomia” com as mesmas questões reflexivas, porém o luxo eram os tecidos e o lixo as telas feitas com retalhos descartados de confecções.

Desconstrução e contraste são palavras-chave desta série que está centrada na coexistência entre o luxo e o lixo, a memória e o esquecimento e entre a atenção e o descaso. Coexistências estas que levam à reflexões sobre sustentabilidade ambiental, consumo e questões sociais provenientes do descarte do lixo. A pintura de louças que lembram o chá da tarde na casa das avós remete à memórias da infância e transporta a um lugar confortável, de aconchego, que coexiste (e contrasta) com o fato do suporte da pintura ser um material descartável.

 

A desconstrução não está somente na forma inusitada que oblitera a realidade, mas também na fuga dos materiais convencionais. A representação do luxo sobre o lixo questiona o uso dos descartes e instiga a pensar nas pessoas envolvidas, muitas vezes invisibilizadas. Algumas pinturas possuem referência direta e ilustrativa destas pessoas, que fazem do lixo o seu luxo; em outros momentos a sugestão fica apenas nas partes amassadas e rasgadas do papelão, suporte que interage na composição da obra com suas dobras, falhas e emendas, direcionando o olhar e valorizando a textura e o relevo do suporte. Deste modo, o papelão é tão protagonista no resultado final quanto as louças representadas - contrastes simbólicos que tensionam a obra e remetem a coexistência de mundos distintos.

COexistência

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