COEXISTÊNCIA











Desconstrução e contraste são palavras-chave desta série que está centrada na coexistência entre o luxo e o lixo, a memória e o esquecimento e entre a atenção e o descaso. Coexistências estas que levam à reflexões sobre sustentabilidade ambiental, consumo e questões sociais provenientes do descarte do lixo. A pintura de louças que lembram o chá da tarde na casa das avós remete à memórias da infância e transporta a um lugar confortável, de aconchego, que coexiste (e contrasta) com o fato do suporte da pintura ser um material descartável. A desconstrução não está somente na forma inusitada que oblitera a realidade, mas também na fuga dos materiais convencionais. A representação do luxo sobre o lixo questiona o uso dos descartes e instiga a pensar nas pessoas envolvidas, muitas vezes invisibilizadas. Algumas pinturas possuem referência direta e ilustrativa dessas pessoas, que fazem do lixo o seu luxo; em outros momentos a sugestão fica apenas nos amassos e rasgos do suporte em papelão, suporte este que interage na composição da obra com suas dobras, falhas e emendas, direcionando o olhar e valorizando a textura e o relevo do suporte. Deste modo, o papelão é tão protagonista no resultado final quanto as louças representadas. Este contraste simbólico que se tensiona na obra remete a coexistência de mundos distintos.
“Apagamento e visibilidade, memória e acontecimento, consciência e descaso – tudo sob o pano de fundo da sociedade do consumo e do descarte, lembrada especialmente pela materialidade dos suportes”.
Nilda Jacks (Casa Amarela)